Esta sequência didática foi desenvolvida como requisito parcial de avaliação na Pós-Graduação em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura, na qual a professora do Projeto Ciranda Literária participa como aluna. Achamos interessante postá-la e divulgar mais uma ideia para o incentivo e promoção da leitura e escrita.
• Atividade lúdica para a leitura de uma obra literária, segundo a PCMR (sigla de Público alvo; Conteúdo; Metodologia; e Resultados. Um tipo de sequência didática desenvolvida pela professora Carla Kühlewein, de Literatura Infanto-Juvenil.)
PCMR – do livro O chupa-tinta, de Éric Sanvoisin.
• Público alvo: 20 alunos; faixa etária 11 a 14 anos; participantes do Projeto Ciranda Literária, o qual compreende alunos do 6º ao 9º ano.
• Conteúdo: dar continuidade à obra de Eric Sanvoisin, O chupa-tinta. (Referência do livro citado: SANVOISIN, Éric. O chupa-tinta. / Éric Sanvoisin; ilustrações de Martin Matje; [tradutora Ana Paula Castellani]. - São Paulo: Martins, 2006. - (Série Draculivro) - Título original: Le buveur d'encre.
• Metodologia:
- Materiais necessários: uma cópia parcial do livro “O chupa-tinta”, do escritor Eric Sanvoisin. Professor, faça uma cópia das páginas 6 à 16 (no final desta proposta) e, fixe mais algumas folhas sulfites junto à essas, de modo que fique parecendo um livro. Para você, professor, cubra as páginas seguintes a página 16 com folhas em branco.
- Desenvolvimento: inicie contando a história resumidamente, mostrando as imagens do livro. Assim que chegar à página 16 interrompa a contação. Entregue as cópias do livro e conte aos alunos que quando chegou à escola o “chupa-tinta” tinha passado pela biblioteca e sugou toda a tinta a partir dessa página, ficando, assim, impossível saber a continuação da história. Então, peça para soltarem a imaginação, escrevendo o restante da história, ou seja, dando continuidade à história. Diga a eles que depois que escreverem poderão ler a história original, já que um livro foi salvo. Assim, poderão comparar a continuação dada por eles a do escritor Eric. “Vamos ver se a continuação será igual ou parecida com a de Eric, ou ainda, se a ideia de vocês, alunos, é muito diferente da de Eric!”
No final, os alunos podem até ilustrar a parte escrita por eles.
• Resultados:
- Resultados esperados:
- estimular a prática da leitura.
- proporcionar um momento de criação e escrita espontânea;
- compreender que só podemos dizer que não gostamos de determinada obra, quando conhecemos esta, logo, como podemos dizer que não gostamos de determinado livro se não o lemos?;
-não julgar um livro apenas pela capa.
-Resultados obtidos:
A atividade ocorreu como o esperado. A professora teve que fazer uma lista de espera para a leitura do livro, pois todos os alunos queriam pegá-lo emprestado. Como havia apenas um exemplar na Biblioteca da escola, a lista de espera foi mais que necessária. A atividade escrita foi não foi diferente, visto que as crianças gostam muito de inventar histórias. Essa atividade não foi orientada, no sentido de o professor dar opiniões sobre a continuação da narrativa, pois o objetivo era deixar os alunos escreverem espontaneamente. Quanto aos dois últimos itens, os alunos perceberam que é importante fazer a leitura de uma obra para, então, julgá-la, pois ao observarmos apenas a capa dess livro, num primeiro momento não sentimos o interesse em lê-lo.
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PAPAI é livreiro. Adora livros. Ele os devora. É um ogro. Lê o dia inteiro e às vezes até mesmo à noite. É uma doença incurável, mas isso não parece preocupar muito o médico de nossa família.
Toda noite uma nova pilha de livros desembarca em casa. Há livros por toda parte, até no banheiro. Uma invasão. Impossível reclamar. Para papai, os invasores sempre têm razão. Ele fala com eles como se fossem seres humanos. Inventa nomes para eles e os chama de meus livrinhos. Todos os livros são seus amigos.
Quanto a mim, não tenho amigos. E também não gosto dos livros. Por fora, pareço com papai. Mas por dentro, aí sim, somos dois estranhos.
Mamãe faz de conta que não percebe. Ela gosta de nós dois. Eu sou o menor, mas ela não me defende nem mesmo quando papai quer me forçar a ler, você acredita?
As férias acabaram de começar. Não sei o que fazer. Então ajudo papai na livraria. O que faço? Não muita coisa. Ele me proibiu de arrumar a até mesmo de tocar o que quer que seja. Parece que o papel não resiste muito a mim. É verdade que adoro ouvir o barulho de uma folha se rasgando. É belo como um trecho de música.
Então observo os ladrões. É a única coisa que me diverte numa livraria. Quando um livro desaparece no bolso de um larápio eu não digo nada. Fico mais é contente. Um invasor a menos! Mas isso só acontece raramente. Em geral, papai detecta os ladrões no momento em que entram na loja.
A maior parte do tempo vigio os leitores. Conheço todos eles. Eles têm seus hábitos. Alguns farejam os livros como se estivessem escolhendo um queijo camembert. Outros se servem ao acaso. Eles adoram surpresas. A livraria é uma loteria! E também há aqueles que nunca conseguem se decidir. Pegam. Devolvem. Pegam de novo. Por fim mudam de ideia e colocam o livro no lugar. Muitas vezes saem de mãos vazias, constrangidos por não terem comprado nada.
Tenho um esconderijo, no fundo da loja. Uma pequena janela se abre no meio de uma parede de livros. Ninguém pode me ver. Sou um espião. Em um caderno, anoto nos mínimos detalhes o que observo. Um dia vou colocar tudo isso num livro, quem sabe? Mas isso me espantaria, pois a gramática e eu não nos entendemos.
Ei!, um novo cliente. Esse eu não conheço. Nunca o vi no bairro. Talvez ele tenha acabado de se mudar. A cabeça dele é engraçada. A pele é cinzenta, sobrancelhas em rebuliço e um ar completamente perturbado. Então ele se entrega a uma curiosa manobra. Parece flutuar a dez centímetros do chão. Como um fantasma. Acho bizarro o comportamento dele.
Uuuuh!
Vi, com meus próprios olhos, o cliente desconhecido beber um livro. Não, não estou delirando. Durante cinco minutos, ele passeou entre as estantes. Com os olhos fechados, movimentava-se em silêncio, os braços estendidos à frente. Era como se escutasse o ruído dos livros.
Subitamente, pegou um livrinho e tudo ficou ainda mais louco.
Ele não o abriu. Apenas separou as páginas do meio e ali, na fenda que se formou, plantou um canudinho que acabara de tirar do bolso. Sua boca se pôs a aspirar. Em seu rosto havia satisfação, como se dentro do livro houvesse suco de laranja com pedras de gelo. É preciso dizer que estava muito calor; um clima não muito propício para se aventurar numa livraria.
Soltei um gritinho de estupefação. Eu sei, não deveria ter feito isso.
Ai! Acho que ele me ouviu. Ele colocou o livro no lugar, guardou seu canudinho e dirigiu-se para a saída.
Logo em seguida saltei de meu esconderijo para examinar o livro no qual o canudinho havia sido inserido. Não tive dificuldade para encontrá-lo. Estava mais fino que os outros e tinha uma consistência meio elástica. Ao levantá-lo, achei que era de uma leveza extraordinária. Se por acaso uma corrente de ar tivesse passado pela loja, ele teria sido levado por ela.
E, quando o abri, quase desmaiei. Estava vazio. Nas páginas não restava nem uma palavrinha.
O estranho cliente havia bebido toda a tinta do livro...
(Monte um livrinho e cole algumas páginas nessa sequência para que as crianças possam continuar a história.)
ÉRIC SANVOISIN
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O chupa-tinta
Continuação da história por:
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(capa)
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um
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O esconderijo
PAPAI é livreiro. Adora livros. Ele os devora. É um ogro. Lê o dia inteiro e às vezes até mesmo à noite. É uma doença incurável, mas isso não parece preocupar muito o médico de nossa família.
Toda noite uma nova pilha de livros desembarca em casa. Há livros por toda parte, até no banheiro. Uma invasão. Impossível reclamar. Para papai, os invasores sempre têm razão. Ele fala com eles como se fossem seres humanos. Inventa nomes para eles e os chama de meus livrinhos. Todos os livros são seus amigos.
Quanto a mim, não tenho amigos. E também não gosto dos livros. Por fora, pareço com papai. Mas por dentro, aí sim, somos dois estranhos.
Mamãe faz de conta que não percebe. Ela gosta de nós dois. Eu sou o menor, mas ela não me defende nem mesmo quando papai quer me forçar a ler, você acredita?
As férias acabaram de começar. Não sei o que fazer. Então ajudo papai na livraria. O que faço? Não muita coisa. Ele me proibiu de arrumar a até mesmo de tocar o que quer que seja. Parece que o papel não resiste muito a mim. É verdade que adoro ouvir o barulho de uma folha se rasgando. É belo como um trecho de música.
Então observo os ladrões. É a única coisa que me diverte numa livraria. Quando um livro desaparece no bolso de um larápio eu não digo nada. Fico mais é contente. Um invasor a menos! Mas isso só acontece raramente. Em geral, papai detecta os ladrões no momento em que entram na loja.
A maior parte do tempo vigio os leitores. Conheço todos eles. Eles têm seus hábitos. Alguns farejam os livros como se estivessem escolhendo um queijo camembert. Outros se servem ao acaso. Eles adoram surpresas. A livraria é uma loteria! E também há aqueles que nunca conseguem se decidir. Pegam. Devolvem. Pegam de novo. Por fim mudam de ideia e colocam o livro no lugar. Muitas vezes saem de mãos vazias, constrangidos por não terem comprado nada.
Tenho um esconderijo, no fundo da loja. Uma pequena janela se abre no meio de uma parede de livros. Ninguém pode me ver. Sou um espião. Em um caderno, anoto nos mínimos detalhes o que observo. Um dia vou colocar tudo isso num livro, quem sabe? Mas isso me espantaria, pois a gramática e eu não nos entendemos.
Ei!, um novo cliente. Esse eu não conheço. Nunca o vi no bairro. Talvez ele tenha acabado de se mudar. A cabeça dele é engraçada. A pele é cinzenta, sobrancelhas em rebuliço e um ar completamente perturbado. Então ele se entrega a uma curiosa manobra. Parece flutuar a dez centímetros do chão. Como um fantasma. Acho bizarro o comportamento dele.
Uuuuh!
(capítulo 1)
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dois
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Cliente esquisito
Vi, com meus próprios olhos, o cliente desconhecido beber um livro. Não, não estou delirando. Durante cinco minutos, ele passeou entre as estantes. Com os olhos fechados, movimentava-se em silêncio, os braços estendidos à frente. Era como se escutasse o ruído dos livros.
Subitamente, pegou um livrinho e tudo ficou ainda mais louco.
Ele não o abriu. Apenas separou as páginas do meio e ali, na fenda que se formou, plantou um canudinho que acabara de tirar do bolso. Sua boca se pôs a aspirar. Em seu rosto havia satisfação, como se dentro do livro houvesse suco de laranja com pedras de gelo. É preciso dizer que estava muito calor; um clima não muito propício para se aventurar numa livraria.
Soltei um gritinho de estupefação. Eu sei, não deveria ter feito isso.
Ai! Acho que ele me ouviu. Ele colocou o livro no lugar, guardou seu canudinho e dirigiu-se para a saída.
Logo em seguida saltei de meu esconderijo para examinar o livro no qual o canudinho havia sido inserido. Não tive dificuldade para encontrá-lo. Estava mais fino que os outros e tinha uma consistência meio elástica. Ao levantá-lo, achei que era de uma leveza extraordinária. Se por acaso uma corrente de ar tivesse passado pela loja, ele teria sido levado por ela.
E, quando o abri, quase desmaiei. Estava vazio. Nas páginas não restava nem uma palavrinha.
O estranho cliente havia bebido toda a tinta do livro...
(capítulo 2)
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(Monte um livrinho e cole algumas páginas nessa sequência para que as crianças possam continuar a história.)